21/07/2013 - 14h04
Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Em uma sala de paredes coloridas e repleta de brinquedos, livros e materiais escolares, Mateus, que tem apenas 5 anos, se concentra na pintura de um desenho do Mickey. É o personagem que ele mais gosta de colorir, conta à Agência Brasil. Com um lápis de cor verde, o menino vai colorindo perfeitamente o desenho do personagem, sem borrões.
Mateus, que é perfeccionista e costuma rasgar o papel se observa alguma falha na pintura, está em tratamento contra uma leucemia identificada há três meses. A sala de paredes coloridas onde ele brinca integra a Ala de Pediatria do Hospital A.C. Camargo Cancer Center, localizado no bairro Liberdade, em São Paulo.
O hospital, que é especialista no tratamento contra o câncer, é pioneiro no país a oferecer educação para as crianças que estão lá internadas ou fazem tratamento ou acompanhamento contra o câncer, como é o caso de Mateus.
“A escolinha distrai. Graças à escolinha, o tempo aqui dentro [passa]: não parece que você está dentro de um hospital. Durante seis meses ele não vai poder frequentar a escola dele. Ele se afastou da escola, dos amigos. Na escolinha, ele acaba se socializando com outras crianças e faz amigos. Com isso, o tempo acaba passando e [o tratamento] não fica tão penoso. Ele gosta muito”, contou Glaucia Xisto, mãe de Mateus.
A escola no hospital foi criada em 1987 com o objetivo de ajudar no tratamento da criança contra o câncer e oferecer um suporte a elas, enquanto precisam ficar distantes das escolas regulares. No A.C. Camargo, as aulas hospitalares são dadas por 16 professores da rede pública, tanto municipais quanto estaduais. A aula hospitalar costuma atender uma média de 15 crianças por dia, em um trabalho que é desenvolvido em conjunto com os pais.
“As professoras fazem contato com as escolas e seguem os parâmetros curriculares. Mas é claro que não serão desenvolvidas atividades como em uma escola regular até porque eles não ficam aqui o período em que ficam em uma escola regular. A escola hospitalar vai suprir, na verdade, o contato, a interação do ser humano com outro ser humano”, disse Ana Maria Kuninari, gerente educacional do Hospital A.C. Camargo.
Desde que foi criada, as aulas na escola só foram suspensas por um único mês, em janeiro de 1995, por determinação das autoridades públicas. A experiência de recesso escolar, no entanto, mostrou que, no mês em que as aulas não ocorreram, o uso de medicamentos para dor aumentou até 60%. Assim, percebeu-se que as aulas são fundamentais para o tratamento das crianças e a equipe médica de pediatria do hospital decidiu então encaminhar um relatório às autoridades públicas, pedindo para que as férias coletivas deixassem de ser obrigatórias, o que foi aprovado.
As aulas em hospitais como complemento das escolas regulares são, hoje, realizadas em vários outros lugares. No Hospital São Paulo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), os conteúdos das aulas da Escola Móvel – projeto desenvolvido junto ao Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer (Graac), são definidos pelos professores do hospital em contato com os professores das escolas regulares dos alunos. Lá, os alunos têm aulas de diversas disciplinas, como Matemática e Física. Cerca de 270 crianças são atendidas por mês na Escola Móvel.
“A Escola Móvel é um setor do hospital que existe desde 2000. Temos a preocupação tanto de atender as crianças quanto de formar os professores. O atendimento é individual e feito a crianças de todo o Brasil”, explicou Amália Covic, coordenadora da Escola Móvel e formadora de professores para atuação em atendimento escolar.
Segundo ela, a primeira etapa é pedir uma autorização para os pais da criança. Depois, os 12 professores da unidade entram em contato com as escolas dessas crianças para combinar as atividades que serão desenvolvidas nos diversos setores do hospital, seja na quimioterapia, nas brinquedotecas ou na internação.
“A Escola Móvel é uma escola de passagem. É um momento da vida dela [da criança]. Fazemos a relação entre o que era antes dela vir fazer o tratamento e quando ela vai voltar à escola de novo. A ideia é que ela volte depois à escola de origem”, acrescentou.
A rotina escolar da criança segue a rotina do tratamento. “Quem fica mais no hospital é o aluno que faz transplante de medula óssea porque fica praticamente 40 dias internado. Excetuando-se esse caso, geralmente a criança vem duas vezes por semana ou às vezes pode vir uma semana toda e pular outras duas”, explicou a coordenadora da Escola Móvel.
Em ambos os hospitais a escola hospitalar é oferecida gratuitamente, como parte do tratamento. “Os resultados são positivos. Se não estivéssemos aqui, essas crianças perderiam, no mínimo, um ano escolar. Mas não é só a perda de ano. Tem a própria significação do que faz parte da vida da criança e uma delas é estar estudando. Então, manter esse vínculo é bastante saudável”, disse Amália.
Edição: Denise Griesinger
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